domingo, 23 de novembro de 2008

É ASSIM QUE SERRA TRATA A SAÚDE

Serra diz que ser médico do HC não é bom negócio

Para o médico Davi de Lacerda, conselho do governador reflete descaso com rede pública


O governador de São Paulo, através de seu secretário de Comunicação, reagiu raivosamente ao relato do médico Davi de Lacerda, em artigo no jornal “Folha de S. Paulo”, sobre seu encontro com Serra no coquetel que se seguiu à apresentação de um balé.

O médico havia escrito que “contei ao governador que sou médico, que fiz graduação na USP, pesquisas em Harvard, residência em dermatologia no hospital Johns Hopkins (EUA) e especialização em cirurgia dermatológica em Paris. Contei também que há cinco dias fora contratado como médico concursado do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Ele sorriu e me deu parabéns. Ao agradecê-los, muito constrangido, informei-o de meu espanto ao descobrir que o salário-base para o médico do HC era de R$ 414 mensais para uma carga horária de 20 horas semanais. O governador buscou me consolar dizendo que eu não ganharia só isso. Respondi que estava ciente das gratificações e que, mesmo assim, meu salário bruto seria de R$ 1.500. Informei-o ainda de que o custo para manter meu consultório fechado durante as horas em que estarei no HC é o triplo do valor que receberei do Estado. Àquela altura, quando já não mais sorríamos, pedi sua opinião. O governador me aconselhou a deixar o HC, dizendo que o HC não é um bom negócio para mim” (grifo nosso).

Diante desse conselho, dado por alguém que fazia propaganda de que havia sido “o melhor ministro da Saúde do mundo” e que é o responsável pela instituição pública em que trabalha, Davi de Lacerda comentou que “seu conteúdo [do conselho de Serra] reflete o descaso do Estado com os médicos da rede pública de saúde e com o futuro de uma instituição cujas contribuições assistenciais e para a pesquisa e educação médica são inigualáveis em todo o território nacional. A maioria dos médicos concursados do HC (….) se distinguem pela admirável formação acadêmica e excelência dentro de suas especialidades. Quase todos são profissionais humanitários, muito trabalhadores e que se dedicam aos seus pacientes de forma exemplar. Grande parte deles detém habilidades e notório saber valorizados além das fronteiras da instituição e do país. Quase nunca fazem greve e freqüentemente acumulam tarefas para que o hospital funcione. Muitos fazem pesquisas inovadoras, publicam artigos científicos e constantemente levam trabalho para casa. São médicos tão apaixonados pelo que fazem que não se deram conta de que poderiam entrar em um péssimo negócio. Com tantas qualidades, seria esperado que os médicos do HC fossem pelo menos remunerados adequadamente”.

A carta do secretário de comunicação de Serra ao jornal, depois de confirmar a conversa, diz que o médico é “gabola”, “mentiroso”, “exibicionista”, “falso” e “desinformado”. Além de dizer que ele “mentiu” em relação ao salário, que seria de R$ 1.946,00, e que ele “subestimou em cerca de 10 vezes o salário horário que recebe”, diz que o médico quis “desmerecer o trabalho médico no Hospital das Clínicas de São Paulo” e que teria afirmado que “somente os néscios ali permanecem”.

Sobre as duas últimas imputações, como se pode comprovar pelo texto que transcrevemos, o mentiroso é o preposto que respondeu por Serra. Sobre o salário, o médico Davi de Lacerda, também em carta ao jornal, esclareceu que “o salário-base que consta da minha carteira de trabalho é de R$ 414,30. Lá também constam as gratificações, que somam R$ 1.169,75. Jamais fui informado de que ganharia R$ 1.946, o que não mudaria significativamente a situação. Esperava que o governador fosse sensibilizado pelos baixos salários pagos aos médicos do HC. O seu conselho não me agradou e não tenho intenção de segui-lo, mas continuo esperando que os médicos do Estado sejam respeitados e remunerados dignamente”.

Médicos do HC confirmaram as informações do Dr. Davi de Lacerda.
Fonte:Jornal Hora do Povo.

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