sexta-feira, 15 de julho de 2011

Lula defende Dilma e ataca a imprensa


Autor(es): Rubens Santos Goiânia



O Estado de S. Paulo - 15/07/2011



Ex-presidente diz que veículos de comunicação desconhecem realidade do governo e dos brasileiros em evento bancado pela Petrobrás

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a gestão de sua sucessora, Dilma Rousseff, e chegou a sugerir que a presidente concorra à reeleição em 2014. Como de costume, Lula também criticou a imprensa e afirmou que a oposição trabalha pelo fracasso da atual gestão.

As declarações foram feitas durante evento da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Goiânia, patrocinado majoritariamente por empresas estatais ou ligadas diretamente ao governo federal comando pelo PT.

Lula negou ter divergências com Dilma. Ele preferiu imputar à imprensa uma suposta discórdia entre eles: "Saí há seis meses do governo e eles (a imprensa) não saem do meu pé", afirmou. "Primeiro, eles tentaram mostrar uma divergência entre eu e a Dilma. Não precisa ser nenhum especialista para saber qual a diferença. Depois perceberam que não havia divergência", disse, arrancando risos da plateia.

"Quando fui a Brasília para tirar fotos com os senadores, disseram que ela (Dilma) era fraca", afirmou. "E o babaca que escreveu isso, se já tivesse sentado com a Dilma por dez minutos, iria saber que ela pode ter todos os defeitos do mundo, menos ser fraca."

O ex-presidente também criticou a imprensa por divulgar informações sobre o patrocínio da Petrobrás, no valor de R$ 4 milhões, ao evento dos estudantes: "Aquele jornal (O Globo), de caráter nacional, não sai do Rio de Janeiro", disse Lula. "Vai na baixada Fluminense que você não acha ele", ironizou. "E os grandes (jornais) de São Paulo quase não chegam no ABC", afirmou.

À vontade, Lula evitou temas espinhosos, como a denúncia do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentada ao Supremo na semana passada e segundo a qual o mensalão, escândalo da gestão do ex-presidente, foi uma atentado à democracia brasileira.

Sobre a performance de Dilma, ele afirmou: "A presidente vai fazer mais e melhor do que nós fizemos. Ela vai inaugurar até o final do mandato, digo, deste primeiro mandato, obviamente, mais 200 escolas técnicas".

Além de participar do 52.º Congresso Nacional dos Estudantes da UNE, o ex-presidente Lula se reuniu com dirigentes do PT e do PMDB de Goiás para ampliar uma parceria visando as disputas eleitorais pela Prefeitura de Goiânia, no ano que vem, e ao governo do Estado, em 2014.

Durante o encontro dos estudantes, Lula disse estar sentindo a ausência do ex-vice-presidente José Alencar, morto neste ano, e da presidenta Dilma ao seu lado no evento: "Acho que foi um equívoco (ela não estar presente)", disse ele. "A gente ia dizer: nunca antes na história do Brasil uma presidenta, mulher, tinha participado de um encontro da UNE."

Oposição. Sobre a atuação da oposição, Lula rebateu críticas e novamente foi ao ataque. "Estão torcendo para a inflação voltar", disse, ao rejeitar o termo "herança maldita".

Para Lula, seu governo deixou uma "herança bendita". "Chegou a se falar em herança maldita", disse. "É que eles não reconhecem que o povo não quer mais intermediário entre eles e a informação", afirmou. "Mas o Brasil vai continuar crescendo, e a inflação controlada."

Segundo Lula, os questionamentos sobre seu legado além de não serem reais estão permeados de preconceitos sociais. "Os que governam para um terço da população estão incomodados em ver os pobres andando de avião", criticou. "Tem gente que se incomoda vendo pobre andando de carro novo porque eles adoram ver um pobre andando de Brasília, ou de Chevette com o para-choque arrastando. Essa gente não está acostumada a ver um progresso" disse.

Afirmações como essas levantaram a plateia. "Ah! Cabra da peste, o Lula é do Nordeste", gritaram os estudantes. O ex-presidente começou o discurso confessando-se "apaixonado" por microfones: "Não via a hora de falar perto de um microfone outra vez", disse. "Há quanto tempo não faço um discursinho." Em seguida, abandonou papéis e falou de improviso.