quinta-feira, 4 de julho de 2013

"Herói" incensado por Veja age à extrema direita




Maycon Freitas, personagem desta semana das Páginas Amarelas da revista Veja, tem página no Facebook repleta de mensagens antidemocráticas, preconceituosas e violentas; "Galera, tive uma ideia: que acham de eu ir lá no Congresso em Brasília, me acender e tocar fogo geral?", pergunta ele, que postou foto sua com roupas de combate e fuzil na mão; dublê da Rede Globo, onde trabalhou no policial Linha Direta, ele é direto e grosso no que pensa sobre respeito ao ser humano: "E vai tomar no c... quem é a favor dos direitos humanos"; Veja deve desculpas a seus leitores; a não ser que concorde com o que Maycon diz a todos


Veja já teve mais critério ao selecionar entrevistados para suas "páginas amarelas", ou, na verdade, é o contrário: agora sim é que Veja tem nitidamente um critério ideológico para eleger seus entrevistados. No caso, o "jovem" e "técnico de segurança do trabalho que vive de bicos e já trabalhou como camelô e dublê" Maycon Freitas, de 31 anos.

Uma pesquisa básica no Facebook e nas mensagens de Twitter postadas pelo mesmo Maycon Freitas mostra que ele simpatiza com ideias típicas de extrema direita, dissemina a homofobia e cultua a violência. Um perfil real que não aparece em uma linha sequer da entrevista publicada pela principal revista do Grupo Abril, feita por Álvaro Vale. Ali, Maycon surge como um líder forte e renovador, que detesta os partidos e os políticos, mas que renega a violência. Bem diferente do que ele realmente é, dito por si mesmo:

"Marcelo Freixo, vai dar meia hora de c... com o relógio parado e chupar um canavial de rola, seu filho da puta. Direitos humanos é o caralho, seu FROUXOOOOO!!!!!!", postou ele, por exemplo, em sua página, a respeito do deputado estadual do Rio de Janeiro.

Entre fotografias em que aparece ao lado da estrela Xuxa, da Rede Globo, Maycon postou a si próprio vestido como policial militar, de fuzil na mão. Explica-se: Maycon trabalhou sim como dublê, e isso foi para a Rede Globo, no programa Linha Direta, que explorava casos policiais de maneira romanceada..

Em poucas palavras, numa postagem anterior, ele definiu sua posição sobre direitos humanos, garantidos à humanidade desde a Declaração Universal, de 1948:

"E vai tomar no c... quem é a favor de direitos humanos", cravou Maycon, como se estivesse espetando uma baioneta no coração da democracia.

Foi esse "jovem" para o qual Veja desta semana, nas bancas, abriu sua seção considerada mais nobre, de três páginas.

Além de ser um rematado reacionário, que nitidamente não tem sintonia ideológica nenhuma com a grande maioria dos jovens, esses sim, universitários que saíram às ruas de todo o País, Maycon é um louco incendiário. Exagero? Abaixo,uma de suas últimas postagens em sua página no facebook:

"Galera, tive uma ideia.

Que acham de eu chegar la no congresso em Brasilia, me acender e tacar fogo em geral? (abaixo)", perguntou o entrevistado de Veja. Não nas paginas amarelas, mas depois, em sua página no Face, sob efeito da entrevista que o tornou famoso.

Ao abrir a revista para um personagem desse calibre, mesmo em nome da ideologia que defende, a revista Veja cometeu uma grande falha de apuração, tendo apresentado a seus leitores apenas uma parte – e a mais rósea delas – de um cidadão cujas ideias são extremamente prejudiciais à democracia. Deve a publicação desculpas a seus leitores, a não ser que concorde com o que pensa o "herói" Maycon.

Leia, ainda, texto de Paulo Nogueira, ex-diretor da Abril, sobre o entrevistado de Veja, noDiário do Centro do Mundo:

O heroi da Veja diz que bandido bom é bandido morto

Maycon Freitas é a vanguarda do atraso.

Desequilibrado, agressivo e fanático: o heroi da Veja

Obtusidade? Má fé cínica? Ambas?

Faça sua escolha.

Tantos jovens brilhantes emergindo nos protestos, e eis que a Veja consegue escolher, para dar nas suas Páginas Amarelas, um certo Maycon Freitas que tem sido, justificadamente, chamado de ‘débil mental’ nas mídias sociais.

Maycon, segundo a Veja, teria se destacado nas manifestações do Rio.

Wellington diria que quem acredita nisso acredita em tudo, mas o ponto não é a liderança, ou pseudoliderança, que ele possa ter exercido.

São suas ideias, cruamente expostas em sua página no Facebook.

Uma mensagem conta quase tudo.

“Marcelo Freixo, vai dar meia hora de cu com o relógio parado e chupar um canavial de rola, seu filho da puta. Direitos humanos é o caralho, seu FROUXOOOOO!!!!!!”

Outra mensagem de Maycon afirma o seguinte: “Bandido bom é bandido morto”.

Maycon se declara presidente de uma certa UCC, União Contra a Corrupção.  Não se sabe direito o que ele faz quando você percorre sua página.

Numa hora, ele aparece vendendo dólares e aparelhos eletrônicos. Mas num vídeo que circula hoje pela internet ele diz, histericamente, ser funcionário da Globo.

Viaja muito, e publica fotos das viagens, muitas delas sem camisa. Diz ser faixa preta de alguma luta marcial, para enfrentar pessoas maiores.

Seu heroi, claro,  é Joaquim Barbosa, o “guerreiro”.

“Fique firme, suporte com galhardia e não esmoreça jamais”, escreveu ele sobre JB. “Toda a nação depende do senhor.”

Aprecia também o promotor paulista Rogério Zagallo, que recentemente sugeriu que a tropa de choque paulistana abrisse fogo contra manifestantes do MPL.

A terra de sua adoração são os Estados Unidos. Ele vibrou quando a família do jovem acusado em Boston não encontrou cemitério. “Por isso que sou fã dos EUA. Enterrar vagabundo é o cacete. Manda pro Brasil. Aqui vagabundo tem direito.”

O Brasil é um “país de merda”, por este tipo de coisa, composto por um “povo de merda”.

Em outro texto, ele diz: “E vai tomar no cu quem é a favor de direitos humanos”.

Ele diz que é vascaíno ao publicar uma foto de uma latinha de Coca Zero com a inscrição “Flamerda”.

Teme a ‘ditadura comunista’, bem como a ‘ditadura bolivariana’, e isso mostra que ele é, essencialmente, um homem assustado.

Importante notar: ele é irrelevante. Não influencia ninguém.

Seus posts no Facebook, pré-Amarelas, em geral não tinham nenhum comentário e nenhum “curti”.

Alguns raros tinham duas ou três manifestações, uma das quais vinha sempre de sua mulher, Cris.

Nada da mente fanática de Maycon apareceu na entrevista, feita pelo jornalista Álvaro Vale, ao qual ele agradeceu a gentileza no Facebook.

Álvaro é um jornalista de verdade? Se é, por que não confrontou Maycon com algumas de suas aberrações publicadas? Um dia talvez ele, Álvaro, se dê conta de quanto sua reputação se mancha ao fazer um jornalismo tão desonesto.

Você lê e se pergunta: é esse o Brasil que emergiu?

Só para a Veja.

Queremos um Brasil à imagem e semelhança de Maycon Freitas?

Talvez a Veja queira.

Mas os brasileiros de bem não querem isso.

Continue lendo e espiando

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